quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Rally dos Sertões | Mundial 2010

Após 12 anos de off-road, em sua maioria dedicados aos rallys de regularidade ou raids, passando por quase todas as categorias como endurance trial, rock crawling, rally de velocidade incluindo as trilhas, faltava o tal rally cross country.

Cross Country é o tipo de rally que se tem um percurso desconhecido, que é percorrido através de uma planilha bem parecida com as de regularidade, porém sem as malditas médias de velocidade. As duas maiores competições deste tipo são o Dakar e Sertões.

Pois bem, voltando a 2010, mais precisamente em maio, recebo do amigo Marco Túlio o convite ou convocação para ser o navegador oficial da recém montada Equipe Lana Racing. Túlio que hoje é a referência de Minas nos rallys de velocidade cross country, campeão mineiro por 2 vezes, campeão da Mitsubishi Cup, estava indo para seu quinto Sertões, o segundo como piloto e pela primeira vez correndo com uma equipe totalmente independente. Bom, eu estava com sorte e o sonho apenas começava.

Minha participação estava garantida e a pouco mais de dois meses para a competição comecei a me preparar. Num rally desses, o planejamento é primordial e a chance de ir e somente sentar no carro e navegar não existiu e não existe. Peguei o bonde andando e subi, foi assim que aconteceu. Dei alguns modestos palpites, dei um tapa no visual da equipe, criei uma logomarca, e fomos aos poucos dando uma identidade visual para a Lana Racing. Sob o princípio de quem não é visto não é lembrado, foquei em chamar atenção e o verde kawasaki se destacou na nossa equipe.


Qual é o nosso objetivo no rally ? Essa foi a primeira questão que levantei. E nossa missão era chegar todos os dias, de preferência sem quebras ou problemas maiores, completar o rally. Iriamos habitar uma mitsubishi TR4 RIII, que já vem pronta de fábrica para competição, algumas alterações ficaram a cargo do competente e experiente Fábio Poltronieri, especialista em mecânica, proprietário da renomada Mecânica Poltornieri de Jundiaí, fanático por rally e louco por Sertões, simplesmente nosso chefe de equipe. Painel corta fogo, aumento do tanque de combustível e alterações na suspensão (item que foi copiado pela montadora e hoje sai em todas as TR4 R 0km) foram incrementados em nosso veículo de competição. Além é claro dos super pneus BF GOODRICH, gentilmente patrocinados pela PRIME PNEUS que calçaram o veículo de competição.

Aprendi que o planejamento não é tão preciso quando se tem falta de patrocínio, entre alguns desencontros com outros competidores que iriam conosco, furadas de membros da equipe de apoio, falta de veículo de suporte, e a esperança e luta para se conseguir uma boa estrutura, o tempo passou. O plano de deixar tudo pronto antecipadamente foi buraco abaixo. A iveco e a carretinha que iriam levar as peças e a oficina foram compradas apenas 15 dias antes da viagem, o troller e a ranger que foram como apoio só foram confirmados 8 dias antes da largada entre outras coisinhas mais, a correria final foi intensa. Mas demos conta do recado.


Sob a alegação de que em 2009 a TR4 (porém outra) quebrou a suspensão traseira todos os dias, me senti responsável por ela e por segurar um piloto que é fã de saltos a não saltar. A matemática foi simples: salto é prejudicial a suspensão e se a suspensão quebrou todos os dias no ano anterior, a solução seria não saltar.


Baxim, Fábio, Mãozinha, Alex Rayol, Jacuzinho, Gargamel, Hércules, Goiaba e Erick ''O Sharpei Chinês'' completaram a equipe Lana Racing. Alguns estreantes, outros com vasta experiência de anos de Sertões, outros com experiência de excursões a Disney (???) e alguns, somente sabedores de alguma coisa. Mas tava ali a equipe que daria conta do recado e nos colocaria no final da prova. Isso se a tal suspensão ajudasse, o navegador conseguisse evitar os tais ''saltinhos'', o percurso colaborasse com a TR4 e o piloto poupasse o carro.


Super Prime. Uma super estrutura foi montada com camarotes e arquibancadas em torno da pista que iria definir a ordem de largada. Após desfrutarmos do camarote dos competidores, fomos para a pista curtir a entrada do rally, ou só um aperitivo. Ao som de AC / DC aceleramos, de leve mas aceleramos. Se não me engano nos rendeu um 26 lugar que seria nossa posição de largada.


No dia seguinte, uma terça feira, fomos escoltados para a primeira largada do segundo maior rally do mundo. Tudo pronto, tudo checado, ajustes feitos e estavamos ali, frente ao agente de prova e do cronômetro regressivo que nos daria a partida. Largamos !!!


10 dias e quase 5000 km, de Goiania a Fortaleza passando por 11 cidades e encarando a etapa maratona que atravessa o deserto do Jalapão sem manutenção mecânica. Não subestimamos o rally e o encaramos dia a dia, passo a passo, do jeito que tinha que ser. Aceleramos muito onde dava e seguramos um pouco nos chamados trechos de TRIAL, onde nosso carro sofre mais. Saltinhos nem pensar. Um problema intermitente em uma central do carro nos gerou um superaquecimento no terceiro dia, não nos impediu de continuar mas ficamos mais de uma hora parados esperando o radiador esfriar. Trocar um simples pneu após 200 km de especial, de macacão e capacete não é nada fácil, tivemos dois furados. O escapamento também deu trabalho, o revestimento térmico soltou, aquecendo o assoalho do carro no lado do piloto chegando a derreter a sapatilha e queimar o calcanhar de Marco Túlio que também teve o dedo mindinho atingido por um golpe de volante e até hoje reclama que dói.

Na sequência dos problemas, o show foi meu, com o cansasso e sofrimento de Marco Túlio com a queimadura no pé, tomei a direção para percorrer o deslocamento final que chegaria a Teresina no Piauí. Após dar passagem a uma L200 e entrar na poeira, tive o azar de me deparar com uma cratera na pista que nos jogou no barranco. Batemos feio, lateral amassada e suspensão dianteira direita totalmente destruida. Saímos ilesos mas o carro não. A equipe de apoio vinha no troller atrás, gastamos umas três horas para conseguirmos continuar rodando, fomos a 20 km/h e levamos mais de 4 horas para percorrer os 80 km que faltavam até a capital do Piauí. Dia cansativo mas concluído, chegamos no parque de apoio quase meia noite e os heróis da resistencia, Fábio, Hércules e Mãozinha trabalharam no carro a noite toda nos dando condições de largar com o carro 100% no dia seguinte.


O rally é incrivel, a estrutura é grande, uma caravana de 2000 pessoas percorre todo o trajeto. Não vi conversinha e a organização é rigorosa em todos os termos. Rigorosa a ponto de distribuir um pacote de penalizações para todo lado. Baseado na prova de 2009 Túlio me deu as diretrizes sobre as zonas de radar (mesmo argumentando que o regulamento dizia outra coisa) e corremos os primeiros dias reduzindo a velocidade ''atrasados'', com isso entramos diversas vezes na zona de radar com velocidades superiores ao permitido nos rendendo 4 horas de penalização que nos tirou um pouco do ânimo e preciosas posições na categoria T2. Fez parte, aprendemos e corrigimos.


A suspensão foi um sucesso, os problemas no carro foram mínimos, fizemos uma boa prova dentro dos nossos objetivos e consideramos a missão cumprida. Chegamos em Fortaleza inteiros, com o carro inteiro (se não fosse a batida) e mesmo com as horas de penalização ficamos em quarto lugar subindo ao pódio na categoria T2 do segundo maior rally do mundo.

Um rally como o Sertões vai além da prova em si, envolve planejamento, dinâmica de grupo, trabalho em equipe, grana, muita disposição, preparo físico, preparo mental, paciência, concentração e competência. Aprendi muito e sofri menos que o esperado. Apesar do dia a dia ser muito intenso o rally passa rápido, quando assustei, acabou !

Agradecemos a todos que nos patrocinaram e apoiaram.

DIAMOND HOUSE | ANDRADE TEXTIL | INFOEX | PRIME PNEUS | COCA COLA | PREFEITURA DE DIVINÓPOLIS | PLANETA OFF-ROAD | DRILLING, TENGE E DRILL LOG

Para este ano de 2011 já estamos inscritos e confirmados para o Sertões. Começará tudo de novo.

2 comentários:

ABEDORAL "o verdadeiro" disse...

Acompanhando de perto a "saga", a movimentação e todo o "clima" que cada evento gera desde sua concepção até o fato consumado.
Esse blog é justamente o manifesto publico que faltava. Parabens !

Pedro Silva disse...

parabéns kroc or die. vou ler o resto e dizer minha opiniao depois.

o início é o mais difícil, depois piora...

ab,
thracyti